top of page
  • Branca Ícone Instagram

O Eco Medieval contra a Arrogância da Corrupção

Atualizado: 12 de set.

ree

Na Idade Média, pensadores como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino refletiram profundamente sobre a origem do mal e sua manifestação nas estruturas humanas. Em A Cidade de Deus (IV, 4), Agostinho afirma:

“Retirada a justiça, o que são os reinos senão grandes latrocínios?”

Essa imagem é surpreendentemente atual: facções criminosas se organizam como falsas sociedades, unidas não pela virtude, mas pelo interesse no saque, no domínio e na corrupção. Para o bispo de Hipona, a ausência

da justiça transforma o convívio humano em tirania, pois a ordem natural é substituída pela força e pela violência.


Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica (I–II, q.95, a.2), discute a lei humana e sua relação com a lei natural. Para ele:

“Toda lei humana tem natureza de lei na medida em que deriva da lei natural; se diverge da lei natural, já não é lei, mas corrupção da lei.”
ree

Ora, a máfia e as facções são a caricatura dessa ideia: criam códigos de conduta próprios, regras impostas pelo medo e sustentadas pela força, mas que carecem de qualquer legitimidade. Assim, na Ótica Tomista, essas organizações não são sociedade, mas corrupção da sociedade, um desvio da finalidade natural da vida em comum, que é o bem comum.


A crítica também aparece em Dante Alighieri, na Divina Comédia. No Inferno (Canto XI), Virgílio explica a hierarquia moral das penas: a fraude é considerada pior que a violência, porque fere diretamente a confiança e a razão, e por isso os fraudulentos são punidos mais abaixo. Como afirma o poeta:

“Como a fraude é vício peculiar do homem, Deus a odeia mais; e, por isso, os fraudulentos estão mais abaixo e sofrem mais.”

O pensamento conservador encontra, nesses filósofos medievais, um alicerce para compreender que a ordem social só se sustenta quando fundada em princípios eternos de justiça e moralidade. Facções criminosas, ao se colocarem acima da lei divina e da ordem natural, agem como tiranos. São a expressão daquilo que Burke, séculos depois, chamaria de empáfia da alma que se acredita perfeita. A arrogância do poder sem limites destrói a sociedade e transforma comunidades em quadrilhas.


O crime organizado é, em essência, uma paródia do poder legítimo, fundada na força e não na justiça. Contra essa tirania, a resposta conservadora não é a utopia revolucionária, mas a restauração da ordem natural, da lei justa e da virtude. Santo Agostinho, Tomás de Aquino e Dante nos lembram que onde reina a facção não existe sociedade, apenas o simulacro do convívio humano — e que somente a lei verdadeira, enraizada no bem, pode restituir a dignidade da vida em comum.

Comentários


bottom of page