Caminhar
- Dr. Rafael Alvarenga

- 12 de set.
- 2 min de leitura

Caminhar é um gesto simples e universal. É exercício físico, feito de passos que fortalecem o corpo e limpam a mente. Mas é também metáfora: é o ir para frente, o reinventar-se, o vencer-se aos poucos. Quando caminhamos, não apenas avançamos no espaço; avançamos em nós mesmos, como quem abre clareiras na alma.
O pensador brasileiro Roberto Campos lembrava em Lanterna na Popa (1994) que o progresso sólido não nasce de saltos impetuosos, mas de “passos graduais e firmes que consolidam a liberdade e o bem-estar”. Caminhar, nesse sentido, é disciplina conservadora: não destrói o que veio antes, mas o integra. E é também impulso libertário: coloca a responsabilidade no indivíduo que decide dar o próximo passo.
Assim como os estoicos ensinavam, o caminhar é feito de constância. Um passo sozinho parece pequeno, quase insignificante. Mas a soma deles constrói uma jornada. Na vida, é o mesmo: o verdadeiro crescimento não está em conquistas súbitas, mas em avanços silenciosos que se acumulam dia após dia. Quem caminha, aprende a respeitar o tempo.

Na música popular, esse gesto ganha outra luz. Em “Sá Marina”, cantada por Wilson Simonal, ouvimos: “Ela é minha menina, eu sou o menino dela, e a gente caminha de mãos dadas pela rua...”. Aqui, caminhar é companhia, é riso partilhado, é vida que se descobre no encontro com o outro. Não é só o corpo que se move; é a alma que encontra sentido ao lado de alguém.
No fim, caminhar é mais do que deslocar-se: é conservar e renovar ao mesmo tempo. É corpo que se fortalece e espírito que se abre ao mundo. É metáfora do nosso viver: entre a prudência de passos firmes e a ousadia de ir adiante. Talvez por isso caminhar seja sempre alegre — porque é a prova de que estamos vivos, ainda em marcha, ainda em construção.








Comentários