top of page
  • Branca Ícone Instagram

Enfraquecer uma nação com drogas. (Guerra do Ópio - Parte 01)

No século XIX, ao mesmo tempo em que os britânicos enchiam seus buquês de chá, consumindo incessantemente folhas vindas da China, enfrentavam um problema econômico sério: pouca coisa chinesa era importada, o saldo comercial era negativo e a prata britânica corria para o Oriente. A resposta da Britânica foi cruelmente engenhosa: cultivar papoula na Índia, transformar em ópio, e inundar clandestinamente os mercados chineses — forçando uma dependência que se tornaria arma de dominação.


ree

Houve quem estimasse, por volta de 1906, cerca de 13,5 milhões de viciados em opiáceos na China, ou cerca de 27% dos homens adultos da época.  Enquanto isso, o consumo acumulado atingira na ordem de 39.000 toneladas de ópio.


Nessa lógica, o vício massivo representava a pedra-angular de um “soft power” imperial: não era só conquistar portos e assinar tratados — era corroer a própria força moral da China. A mulher chinesa tornava-se vítima e vetor de consumo, o homem perdia vigor, prestígio, soberania. A ordem social Qing era esgarçada por dentro, enquanto a Inglaterra, de terno e cartola, assinava tratados leoninos, como o Tratado de Nanquim (1842) que abriu portos chineses, cedeu Hong Kong e fixou pagamentos de indenização.


Esse mecanismo — vício imposto + dependência + abertura forçada — pode parecer distante, mas guarda ecos diretos com realidades modernas. Hoje, no Brasil e nos Estados Unidos, o fluxo das drogas revela como o vício e o tráfico continuam a operar como instrumento de dominação e fragilização social.


No Brasil, por exemplo, estudos apontam que em 2023 foram registrados cerca de 181.843 incidentes de tráfico de cocaína, com apreensão de 128.720 kg da substância. Nos Estados Unidos, os dados da United States Sentencing Commission mostram que, em 2024, de 61.678 casos reportados, 18.150 envolveram drogas — destas, 18.029 eram casos de tráfico.


ree

Se trocarmos “ópio britânico” por “cocaína/transnacionais modernas”, vemos o mesmo padrão: regiões vulneráveis, tráfico internacional, dominação indireta (via dependência e criminalidade), enfraquecimento moral e corrupção estatal. A China do século XIX era encurralada economicamente, com suas mulheres e homens sendo enfraquecidos pelo vício; o Brasil e os EUA de hoje enfrentam esse ataque perverso em que países produtores de cocaína e outras drogas atacam suas instituições.


Em suma: o ópio que a Inglaterra descarregou na China não foi apenas uma mercadoria — foi uma arma. E embora o contexto se tenha alterado, a lógica persiste: drogas como instrumento de poder desigual, de dominação indireta, de erosão social - e ao que parece de financiamento de interesses escusos. A história evidencia que esse tipo de subjugação funciona tanto com canhões como com viciados.


Para saber mais:

Comentários


bottom of page