A Mente como Realidade Irredutível - parte 02
- Dr. Rafael Alvarenga

- 27 de out.
- 2 min de leitura

A tradição conservadora nunca tratou a mente como ilusão. Desde os clássicos até pensadores modernos, ela é vista como princípio espiritual que torna o homem capaz de moralidade e beleza.
Roger Scruton, em The Soul of the World (2014), adverte:
“A mente humana não é um artefato do cérebro, mas uma janela para o mundo do significado.”
Reduzir o homem à matéria, diz Scruton, é destruir a dignidade humana — pois o valor da pessoa está em poder reconhecer o bem, o belo e o verdadeiro, realidades que ultrapassam o domínio empírico.
O mesmo espírito ecoa em G.K. Chesterton, que, em Ortodoxia (1908), ironizava os cientificistas:
“O materialista é aquele que perde a mente tentando explicar o cérebro.”
O humor de Chesterton encerra sabedoria teológica e filosófica: o homem moderno inverteu a ordem natural das coisas. Toma o cérebro, instrumento da consciência, como causa da própria consciência. É como supor que a lâmpada produz a eletricidade.

Mesmo dentro da própria ciência, os limites do materialismo tornam-se evidentes. Estudos sobre experiências de quase-morte, como o de Pim van Lommel (The Lancet, 2001), mostram que a consciência pode atuar em ausência de função cerebral detectável. Casos de pacientes em estado de morte clínica que descrevem eventos ocorridos ao redor desafiam o paradigma físico.
Além disso, a física moderna, desde Heisenberg (Physics and Philosophy, 1958), desfez a ideia de matéria como substância sólida e independente. O observador participa da construção do real — e isso abre espaço para compreender a mente não como subproduto da matéria, mas como seu princípio ordenador.
A filosofia conservadora não busca eliminar o mistério — ela o preserva. Em uma era em que máquinas imitam raciocínios, mas não têm consciência, convém lembrar que o espírito humano é o que percebe, julga, ama e crê.
O cérebro morre; a mente, enquanto centelha espiritual, permanece. Negar isso é negar o próprio homem. Afirmá-lo é conservar o mistério que nos torna pessoas — e não programas.
Conheça mais:
Chesterton, G.K. Orthodoxy. London: John Lane, 1908.
Heisenberg, Werner. Physics and Philosophy. New York: Harper, 1958.
Scruton, Roger. The Soul of the World. Princeton: PUP, 2014.
Van Lommel, Pim et al. “Near-death experience in survivors of cardiac arrest.” The Lancet, v.358, n.9298, 2001, p.2039–2045.








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