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Schopenhauer e Spinoza: uma leitura estoica

Atualizado: 12 de set.

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 Arthur Schopenhauer (1788–1860) e Baruch Spinoza (1632–1677), embora separados por séculos, compartilham uma mesma postura diante da vida: a busca por serenidade frente às limitações da existência. Em tom estoico, ambos rejeitam a submissão às paixões desmedidas e valorizam o domínio de si mesmo. Schopenhauer resume esse olhar em O Mundo como Vontade e Representação (1818, Livro IV, §57):

“A vida oscila, como um pêndulo, para diante e para trás, entre a dor e o tédio.” Para ele, reconhecer esse limite não é puro pessimismo, mas um primeiro passo para libertar-se interiormente.

 Spinoza, em sua Ética (1677, Parte IV, Proposição 66, Escólio), defende que a verdadeira liberdade não está em satisfazer cada desejo, mas em agir conforme a razão e a necessidade da própria natureza:

“Aquele que é guiado pela razão é mais livre, porque apenas em conformidade com a sua essência necessária age e vive.”

Assim como Schopenhauer, ele entende que a liberdade nasce da disciplina dos afetos, e não da multiplicação de prazeres. Essa lição ressoa com o pensamento conservador, que valoriza a prudência e a moderação como fundamentos de uma vida equilibrada e ordenada.


 Schopenhauer aprofunda essa ideia ao afirmar que o máximo de felicidade possível ao homem é a ausência de sofrimento. Em Parerga e Paralipomena (1851, vol. II, cap. XIII), escreve:

“A felicidade positiva e real é impossível; o máximo a que o homem pode aspirar é a ausência de dor.”

Spinoza, por outro lado, oferece uma perspectiva mais otimista. Em Ética (Parte V, Proposição 42), ensina:

“A beatitude não é o prêmio da virtude, mas a própria virtude.”

Ambos convergem, portanto, na mesma direção: a vida virtuosa é, em si mesma, a realização da liberdade e da paz interior.

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As semelhanças entre os dois são evidentes: Schopenhauer aceita o inevitável da dor e do tédio; Spinoza mostra que a liberdade só existe quando vivemos em conformidade com a natureza. Ambos reconhecem a centralidade da razão e da virtude, afirmando que o verdadeiro progresso humano é interior, no domínio de si. E ambos ecoam uma postura conservadora ao rejeitar ilusões de progresso ilimitado ou de libertinagem: para eles, ordem, disciplina e respeito à realidade são pilares de uma vida digna.


 Por fim, se em um primeiro momento essas reflexões parecem severas, elas também abrem caminho para uma leitura mais leve: tanto Schopenhauer quanto Spinoza nos lembram que a serenidade nasce quando paramos de lutar contra o que não podemos mudar e passamos a valorizar o que realmente importa. O bem-estar não está em conquistas grandiosas ou sonhos inalcançáveis, mas em viver cada dia com virtude, em harmonia com a razão e com gratidão pela ordem do mundo. É nesse ponto que a filosofia, mesmo austera, se revela um convite à esperança e à alegria de viver bem.

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