top of page
  • Branca Ícone Instagram

RADAM e a grande virada contra a malária na Amazônia

ree

Nas décadas de 1960 e 1970, a Amazônia brasileira vivia um momento de aceleração histórica. A expansão territorial era uma política de Estado: a abertura da rodovia Transamazônica em 1970 sinalizava um novo impulso de ocupação e integração nacional. Mas com esse avanço vieram também riscos sanitários — sobretudo a explosão da malária, que encontrou terreno fértil entre florestas, rios e vilas recém-formadas, sob o domínio do mosquito Anopheles darlingi.


Diante desse surto, o Ministério da Saúde, por meio da SUCAM (Superintendência de Campanhas de Saúde Pública), lançou uma das mais audaciosas campanhas sanitárias já vistas na Amazônia. O método era agressivo e amplo: equipes lotavam barcos, aviões e comboios fluviais para aplicar DDT dentro das casas, distribuir quinino e cloroquina, mapear focos entomológicos e atender comunidades isoladas. Foi uma guerra biológica em nome da saúde pública — e da afirmação do Estado na floresta.


Ao mesmo tempo, nascia um outro tipo de campanha, de natureza menos visível, mas potencialmente transformadora: o Projeto RADAM (mais tarde RADAMBrasil). Entre 1970 e 1985, sob a tutela do Ministério de Minas e Energia, o RADAM mobilizou aviões equipados com radar para cartografar o território amazônico sob nuvens densas, produzindo mapas temáticos de solos, vegetação, hidrografia, uso da terra e relevo.


ree

Essas duas frentes — o planejamento territorial e o combate sanitário — raramente foram vistas como cúmplices, mas, no fundo, funcionaram como uma dupla estratégia de presença estatal na região. Vamos ao detalhe dessa atuação conjunta e aos resultados concretos que permitiram à Amazônia ganhar novos trunfos em saúde.


Com a malária se alastrando em áreas recém-ocupadas, a SUCAM reforçou sua escala de ação. No mapa de combate estavam vilarejos ribeirinhos, seringais e assentamentos pioneiros — locais propícios tanto à proliferação do vetor quanto ao isolamento administrativo. Dentre os instrumentos empregados:

  • DDT intradomiciliar: pulverização interior de habitações para matar o mosquito vetor.

  • Distribuição de medicamentos antimaláricos: quinino e cloroquina foram largamente empregados nos ciclos de tratamento.

  • Vigilância entomológica: laboratoristas e técnicos monitoravam populações de mosquitos para entender padrões de transmissão.

  • Apoio logístico aéreo e fluvial: embarcações, barcos e aviões viabilizavam o alcance em regiões inacessíveis por terra.


ree

O esforço exigiu mobilização massiva de recursos humanos e materiais, muitas vezes sob circunstâncias extremas — regiões alagadas, ciclos de cheia, estradas inexistentes.

A campanha fez diferença, sobretudo fora da região amazônica: segundo estudo de 2002, a Campanha de Erradicação da Malária (CEM), iniciada em 1965, permitiu que estados do sul e sudeste eliminassem a doença como problema de saúde pública¹.

Mas o grande desafio era enfrentar a persistência amazônica. Mesmo em 1983, por exemplo, no Amazonas foram realizadas 14.647 borrifações domiciliares em dois ciclos, conforme estatísticas da SUCAM².


Ao longo dos anos, a concentração da malária no Brasil se estreitou dramaticamente: já em 1985, 96,3 % dos casos nacionais estavam na Amazônia. Em tempos mais recentes, esse percentual subiu ainda mais: hoje, cerca de 99 % dos casos autóctones no Brasil ocorrem na Amazônia Legal³. Essa migração espacial do problema mostra o quanto o resto do país foi “desmalariado”, e que ainda vamos vencer a Malária na Amazônia.


Fontes e Referências:


Comentários


bottom of page