O Tratamento de Queimados após o incêndio do Andraus-SP
- Dr. Rafael Alvarenga

- 6 de ago.
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Uma tragédia que transformou a medicina de urgência no Brasil
Em 24 de fevereiro de 1972, o Brasil voltava a ser abalado por outra tragédia com profundas consequências para a medicina de urgência: o incêndio no edifício Andraus, em São Paulo. Com 32 andares, o prédio comercial localizado no centro da capital paulista virou palco de um dos maiores desastres urbanos da época. O fogo começou no 11º andar e, em poucos minutos, transformou o edifício em uma armadilha vertical, resultando na morte de 16 pessoas e ferindo mais de 300 — muitos com queimaduras de segundo e terceiro graus. As imagens de trabalhadores saltando pelas janelas, transmitidas pela televisão, deixaram o país em choque e reacenderam o debate sobre a preparação dos hospitais para lidar com emergências envolvendo queimaduras em massa.

A resposta hospitalar e o papel do Hospital das Clínicas
Na época, o Hospital das Clínicas de São Paulo foi um dos principais centros a receber os feridos. Matérias do O Estado de S. Paulo e da Folha da Manhã relataram o esforço conjunto de médicos, enfermeiros e voluntários que se desdobravam para atender os pacientes, muitos deles inconscientes, desidratados e em estado crítico. A experiência acumulada desde o incêndio de Niterói foi essencial: os protocolos criados por Pitanguy e sua equipe, e já adotados em algumas unidades paulistas, permitiram uma resposta mais organizada. O incêndio também motivou novas discussões legislativas sobre segurança predial e serviu de impulso para o fortalecimento das UTQs — Unidades de Tratamento de Queimados — como centros estratégicos para a medicina de trauma.
Avanços estruturais e tecnológicos no tratamento de queimados
Após o episódio do Andraus, São Paulo consolidou-se como referência no tratamento de queimados na América Latina. O Instituto de Queimaduras do Hospital do Tatuapé, inaugurado anos depois, teve seu projeto influenciado por esse histórico. Além disso, passou-se a adotar com mais regularidade o uso de curativos especiais, terapia com pele sintética e acompanhamento multidisciplinar — envolvendo psicólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. O Brasil, ainda que enfrentando grandes desafios, mostrava avanços importantes tanto na estrutura hospitalar quanto na formação de equipes especializadas para lidar com a complexidade dos pacientes queimados.

Memória, consciência e transformação
O incêndio do Andraus, assim como o do Circo em Niterói, tornou-se um símbolo de dor e superação. A cobertura jornalística da época, com manchetes como “Corpos marcados pelo fogo, vidas salvas pela rapidez dos médicos” (Folha da Manhã, 25/02/1972), serviu como um alerta e um chamado à ação. O Brasil compreendia que tragédias não podiam ser apenas lamentadas, mas transformadas em motor de mudança. Ainda hoje, o fortalecimento do atendimento a queimados caminha graças às cicatrizes deixadas por esses episódios. O fogo que destruiu estruturas também acendeu a consciência nacional para a necessidade de uma medicina mais ágil, humana e preparada para emergências.








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