História de Tratamento de Queimados no Brasil
- Dr. Rafael Alvarenga

- 21 de jul.
- 2 min de leitura
Uma tragédia que marcou a medicina brasileira

Em 17 de dezembro de 1961, o Brasil viveu uma de suas maiores tragédias: o incêndio do Gran Circus Norte-Americano, em Niterói (RJ). Durante uma apresentação lotada, com mais de 3 mil espectadores, o fogo consumiu a lona do circo — que era feita de material altamente inflamável — em apenas cinco minutos. O saldo foi devastador: mais de 500 mortos e centenas de feridos, muitos deles com queimaduras graves. Diante do colapso das estruturas médicas da cidade, o país foi forçado a encarar a urgência de desenvolver um sistema de atendimento especializado para queimados.
Pitanguy e a reconstrução de vidas
À época com apenas 38 anos, o cirurgião plástico Ivo Pitanguy liderou uma força-tarefa no Hospital Souza Aguiar, no Rio de Janeiro, para tratar os sobreviventes. Durante três dias e três noites, operou sem descanso, em uma maratona médica que marcaria profundamente sua carreira e a história da cirurgia plástica no Brasil. Pitanguy não apenas tratou os feridos, mas desenvolveu técnicas pioneiras de enxerto e reabilitação, lançando as bases do atendimento moderno a grandes queimados no país. Ele próprio diria mais tarde que, naquele momento, compreendeu que a cirurgia plástica tinha um papel não apenas estético, mas profundamente humano.

A evolução do cuidado com queimaduras
A tragédia de Niterói funcionou como um divisor de águas. A partir dela, começaram a surgir os primeiros centros de referências para queimados no Brasil, como o Hospital das Clínicas de São Paulo e o Hospital da Restauração, em Recife. Novas técnicas de tratamentos, cuidados intensivos e protocolos para reabilitação física e psicológica passaram a ser estruturados. O Brasil, que antes carecia de políticas públicas voltadas às vítimas de queimaduras, começou a se organizar para oferecer atendimento especializado.
Legado e desafios atuais
Hoje, o país conta com centros de excelência no tratamento de queimados, mas ainda enfrenta desigualdades regionais e limitações no acesso. Destaca-se o trabalho feito no Distrito Federal pelo Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), na sua Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ).
O incêndio de Niterói continua a ser lembrado como uma ferida aberta, mas também como o momento em que a medicina brasileira foi forçada a amadurecer. O legado de Pitanguy permanece vivo — não apenas em técnicas cirúrgicas, mas na consciência de que recuperar um corpo queimado é também reconstruir uma história interrompida.








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