Esperançar
- Dr. Rafael Alvarenga

- 13 de out.
- 2 min de leitura
A palavra esperança vem do latim sperare, que significa “aguardar com confiança”, “ter expectativa”. Sua raiz, spes, remete a uma confiança íntima de que algo virá, não apenas como desejo, mas como virtude que sustenta o homem em meio às trevas. Na tradição cristã e clássica, a esperança nunca foi apenas um estado de ânimo passageiro, mas uma força capaz de mover povos, fundar civilizações e manter viva a dignidade humana diante do infortúnio.

O pensador conservador Roger Scruton lembrava que a esperança é uma das virtudes que mantêm a cultura ocidental enraizada naquilo que nos transcende. Para Scruton, a esperança não é utopia, mas uma confiança na continuidade do que é belo, verdadeiro e bom, mesmo quando o presente parece negá-lo. A esperança, dizia ele, é o antídoto contra o niilismo, porque confia que há sentido mesmo quando os olhos não o alcançam de imediato.
E assim, podemos imaginar a cena simples de um vilarejo em meio a uma guerra esquecida…
…As casas estavam em ruínas, e os homens que voltavam do front traziam no rosto mais sombras do que luz. Uma senhora idosa, chamada apenas de Dona Rosa, caminhava todos os dias até o que restara da praça central. Ali, regava com cuidado uma roseira quase seca, cujos galhos insistiam em resistir entre pedras e cinzas. Os vizinhos zombavam: “Não vê que nada floresce mais aqui? Não percebe que tudo já acabou?”
Mas Rosa, serena, respondia:
— Quem rega o desespero, colhe apenas cinzas. Quem rega a esperança, prepara o futuro.
Meses depois, quando a guerra passou e os ventos da primavera sopraram, a primeira rosa abriu-se vermelha, intacta. E foi em torno dela que as crianças voltaram a brincar, que os homens decidiram reconstruir a praça, que as mulheres retomaram o canto nas janelas.
A esperança não havia sido apenas um sentimento, mas um ato concreto de fé, como uma chama que, mesmo escondida, nunca se extingue.
Assim é a esperança: não uma ilusão vazia, mas a coragem de olhar além da noite, sustentados pela fé de que há um sol do outro lado. É a virtude que alimenta a alma em tempos sombrios, porque sabe que o tempo humano é apenas uma fração do tempo eterno.








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