De Yeshua a Jesus: a fascinante jornada de um nome sagrado
- Dr. Rafael Alvarenga

- 3 de nov.
- 3 min de leitura
Quando pronunciamos o nome “Jesus”, poucos se dão conta de que ele é o resultado de uma longa viagem linguística que atravessou milênios, impérios e alfabetos. Como toda palavra antiga, o nome do Cristo também tem sua história — e ela começa muito antes de Belém.

Nos registros mais antigos, escritos em hebraico, o nome era יְהוֹשֻׁעַ (Yehōshūa‘), que significa “Yahweh é salvação”. Esse era um nome comum entre os hebreus, usado também por Josué, o sucessor de Moisés. Com o tempo, o hebraico passou por simplificações, e Yehoshua se tornou Yeshua — forma mais curta e popular no século I. Foi assim que o carpinteiro da Galileia, filho de Maria, era chamado por seus contemporâneos: Yeshua, algo que, em português, soaria como Iêxua.
Quando os apóstolos e evangelistas começaram a escrever o Novo Testamento, o mundo do Mediterrâneo falava grego koiné. Essa língua, no entanto, não possuía o som “sh”, presente em Yeshua. Por isso, ao traduzir o nome para o grego, os escribas o adaptaram para Ἰησοῦς (Iēsous). O final “-s” foi acrescentado para se adequar à gramática grega, que exigia essa terminação em nomes masculinos.
A mudança, aparentemente pequena, já alterava a sonoridade: Yêxua transformava-se em Iêssus.
Com o avanço do Império Romano e a difusão do cristianismo, o nome Iēsous foi traduzido para o latim como Iesus. O “ou” grego desapareceu, e o nome ganhou uma pronúncia mais suave: Iéssus. O latim, língua da Igreja e da administração imperial, seria o veículo que levaria esse nome a praticamente toda a Europa.
Durante a Idade Média, o latim eclesiástico começou a pronunciar o “s” entre vogais como um “z”. Assim, Iesus passou a soar como Iézus. Já os escribas medievais, que copiavamm os manuscritos à mão, começaram a usar um “J” ornamental para indicar o “I” inicial quando aparecia no começo das palavras. Esse detalhe gráfico, nascido por estética, acabaria mudando a história da escrita ocidental.
Por volta do século XV, o “J” ganhou vida própria — e, em algumas línguas, passou a ser pronunciado com som próprio, como [ʒ] em português (“janela”) ou [dʒ] em inglês (“Jesus”). Assim, o antigo Iesus se tornou Jesus.
O processo que permitiu essa viagem chama-se transliteração. Diferente da tradução, que busca o significado das palavras, a transliteração tenta representar graficamente as letras de um alfabeto em outro. Por exemplo, o hebraico não usa o alfabeto latino; portanto, para ler יֵשׁוּעַ, é preciso escrever Yeshua — cada letra hebraica recebe uma equivalente latina. Assim, o nome muda de aparência, mas não de essência.
É por isso que o nome de Jesus não foi simplesmente “traduzido”, mas transliterado e adaptado diversas vezes — de Yehoshua para Yeshua, de Yeshua para Iēsous, de Iēsous para Iesus, e, finalmente, para Jesus.
Hoje, em cada canto do planeta, o nome ecoa de forma diferente: Jêzus em português, Jízas em inglês, Rréssus em espanhol, Jézu em francês, Yesu em árabe e Ieyasu em japonês. Apesar das variações, a raiz é a mesma — uma herança milenar de fé, escrita e som que atravessou o tempo sem perder o sentido original:
“Deus é salvação.”

Hoje, o mesmo nome ressoa em dezenas de idiomas, cada qual com seu sotaque:
Jêzuis em português,
Rréssus em espanhol,
Jízas em inglês,
Jézu em francês,
Yesu em árabe,
Ieyasu em japonês.








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