Corrupção mata e empobrece

Corrupção não é “crime sem vítima”. Cada real ou dólar desviado da Saúde, da Educação ou da Infraestrutura significa vidas perdidas e mentes apagadas. A consequência é clara: hospitais sem leitos, escolas precárias, evasão escolar, analfabetismo persistente. E as pesquisas confirmam: corrupção mata e também rouba o futuro.

Um estudo global do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra que países mais corruptos registram até seis vezes mais mortes em desastres naturais do que os menos corruptos. A clássica pesquisa de Gupta, Davoodi & Tiongson, também do FMI, encontrou que a corrupção está diretamente associada a maior mortalidade infantil, mais bebês de baixo peso e pior desempenho educacional. Ou seja, cada desvio de hoje se traduz em morte evitável e ignorância amanhã.

 No Brasil, o impacto é contundente. Um estudo sobre auditorias federais em 1.949 municípios (2003–2015) revelou que essa política de fiscalização evitou 7.014 mortes infantis, incluindo 5.028 bebês, com redução média de 5–6% na mortalidade. É a prova de que combater a corrupção salva vidas reais.

E o efeito não para na saúde. Pesquisas de Ferraz, Finan & Moreira (2012) mostram que municípios com fraudes no uso de recursos da educação apresentam infraestrutura escolar pior, professores menos qualificados, aprendizado mais baixo, maior repetência e evasão. Outro trabalho (Ferraz & Finan, 2008) revelou queda significativa no desempenho dos alunos em português e matemática nas cidades marcadas pela corrupção. A corrupção, portanto, não apenas mata — ela empobrece a mente coletiva.

A sociedade percebe esse elo: pesquisa da CNI / Todos Pela Educação mostra que 60% dos brasileiros acreditam que a má qualidade da educação contribui para a corrupção, enquanto 77% dizem que ela também aumenta a violência. É um ciclo perverso — corrupção gera má educação, que gera mais corrupção.

 Tivemos grandes exemplos de combate a corrupção:

2005 — Mensalão: primeira grande condenação de políticos por compra de votos.2014 — Lava Jato: maior operação anticorrupção da história brasileira, com foco em Petrobras e grandes empreiteiras.

Mas há sinais de retrocesso recente. Em 2024, o Brasil registrou sua pior nota e posição no Índice de Percepção da Corrupção: 107º lugar. Ou seja, o brasileiro acha que o pais está mais corrupto.

O impacto econômico também é brutal. Levantamento da CNI estima que cada R$ 1 desviado gera R$3 em prejuízos sociais. Não é só dinheiro perdido: é um multiplicador de sofrimento. Corrupção mata… e mata mais que muita pandemia.

Para saber mais:

• FMI – corrupção aumenta mortes em desastres naturais: Exame

• Gupta, Davoodi & Tiongson (FMI) – corrupção e mortalidade infantil/educação: FMI Research

• Auditorias CGU salvaram 7.014 crianças: Repositório IPEA

• Ferraz, Finan & Moreira (2012) – corrupção na educação: Exame

• Ferraz & Finan (2008) – desempenho escolar e corrupção: ANPEC

• CNI – cada R$ 1 desviado gera R$ 3 de prejuízo: Grupo Voto

• Pesquisa CNI/Todos Pela Educação – percepção da sociedade: Gazeta do Povo

• Índice de Percepção da Corrupção 2024 – Brasil pior nota histórica: Transparência Internacional