Cientistas convertem rins para tipo universal e podem revolucionar os transplantes
- Dr. Rafael Alvarenga

- 24 de out.
- 2 min de leitura
Imagine um mundo onde qualquer pessoa, independente do tipo sanguíneo, possa receber um rim compatível — sem precisar esperar anos em uma fila ou correr o risco de rejeição. Essa realidade está cada vez mais próxima, graças a um avanço extraordinário da medicina regenerativa e da bioengenharia.

Cientistas canadenses demonstraram que é possível converter um rim do tipo sanguíneo A para o tipo O usando enzimas específicas que removem os marcadores de incompatibilidade da superfície do órgão. O resultado? Um rim “universal”, pronto para ser transplantado em praticamente qualquer paciente, independentemente do seu tipo sanguíneo.
Hoje, o sistema de transplantes é limitado por uma barreira biológica muito simples: compatibilidade de sangue. Um paciente do tipo O só pode receber órgãos de doadores também tipo O — o que restringe muito as opções e aumenta o tempo de espera.
Com essa nova técnica, os pesquisadores conseguiram eliminar os antígenos do tipo A da superfície dos rins. Esses antígenos são os “sinais” que fazem o sistema imunológico rejeitar o órgão como se fosse um corpo estranho. Removendo-os, o órgão passa a ser “invisível” nesse aspecto — funcionando como um rim do tipo O.
A equipe utilizou um par de enzimas chamadas FpGalNAc deacetilase e FpGalactosaminidase, obtidas de bactérias intestinais humanas. Essas enzimas foram aplicadas diretamente nos rins, em um processo chamado perfusão ex vivo, ou seja, com o órgão fora do corpo, conectado a uma máquina que simula a circulação sanguínea.
Em apenas algumas horas, os rins tratados apresentaram eliminação de até 98% dos antígenos A, tornando-se funcionalmente semelhantes aos rins tipo O. Os testes iniciais em laboratório também mostraram que o órgão convertido não era atacado por anticorpos anti-A, o que indica forte compatibilidade imunológica.

Em um estudo publicado na Nature Biomedical Engineering (2025), os pesquisadores realizaram um transplante experimental de um rim convertido do tipo A para um receptor tipo O. O procedimento foi feito em um modelo clínico rigoroso e, nos dois primeiros dias, não houve sinais de rejeição hi
peraguda, considerada a forma mais grave de resposta imune imediata.
Segundo os autores, os próximos passos incluem ensaios clínicos maiores, acompanhamento de longo prazo e avaliação da função renal pós-transplante. Se tudo correr como previsto, essa tecnologia poderá estar disponível em clínicas de transplante nos próximos anos — salvando vidas e reduzindo significativamente as filas de espera.
Esse avanço representa um dos maiores saltos da medicina transplantadora nas últimas décadas. Com a possibilidade de tornar os órgãos doadores “universais”, abre-se um novo capítulo na luta contra a escassez de órgãos, promovendo mais equidade, rapidez e segurança para milhares de pacientes ao redor do mundo.
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